DW BRASIL | DORMIR COM A ÚNICA ROUPA MOLHADA QUE TEM E PASSAR O DIA ENROLADO EM COBERTORES

Dormir com a única roupa molhada que tem e passar o dia enrolado em cobertores.Essa tem sido a rotina de muitas pessoas gordas que perderam tudo nas enchentes do Rio Grande do Sul — o estado que, segundo o IBGE, tem o maior percentual de pessoas com excesso de peso do Brasil: 63% da população adulta.

A exclusão que já era comum no varejo se agrava em situações de emergência. As doações tradicionais simplesmente não incluem roupas em tamanhos maiores.

"Eu uso tamanho 56, 60, e estou praticamente com nada... É muito difícil conseguir doações plus size", relatou Andreia, abrigada em São Leopoldo. Casos como o dela escancaram a urgência de iniciativas voltadas para a dignidade de todos os corpos.

Frente a esse cenário, uma rede de solidariedade se formou com base em escuta, ação e coragem. Entre os movimentos está o projeto Doe Roupas Íntimas, focado em arrecadar verba para comprar e entregar peças íntimas novas e em tamanhos maiores."Recebemos relatos de pessoas usando sacolas como calcinha ou cueca, ou que estavam há dias com as mesmas peças", explica a voluntária Laura Sonego.

Na linha de frente dessa mobilização, Amanda Momente, fundadora da Wonder Size, disponibilizou modelagens da própria marca para facilitar a produção em larga escala:

"A gente liberou os moldes de camisetas, moletom, blusa de frio, calça e calcinha. Agora incluímos a cueca, que foi um pedido recorrente dos abrigados."

Na ponta da entrega, Viviane Lemos coordena a triagem com sensibilidade e precisão:

“São inúmeros casos de pessoas enroladas em lençóis, roupas úmidas, sujas há dias. A indústria não tem estoque desses tamanhos — a problemática é estrutural e muito maior do que parece.”

Este movimento não é apenas sobre vestir.É sobre reparar uma falha histórica da indústria da moda — que, mais uma vez, mostrou que não está preparada para vestir todos os corpos nem em situações de emergência.

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Até a próxima,